OCA
13ª BIENAL DO MERCOSUL 2022
Proposta de instalação por
Lucas De Sordi
OCA é uma instalação cinética de luzes que dançam no ar. Um conjunto de motores e cabos, regidos por inteligência artificial, animam um grande chandelier luminoso que se move no espaço. Alternando entre objeto e lugar, a peça propõe uma discussão entre tecnologia e novas formas de ocupação do espaço.
Vivemos atualmente a 4ª Revolução Industrial. A robótica, inteligência artificial, big data, entre outros avanços, estão mudando profundamente a maneira como consumimos e nossa ideia de propriedade. O carro da família, a bicicleta, os locais de trabalho, as ferramentas, todas essas coisas que antes eram bens, agora estão se transformando em serviços.
No campo da arquitetura e urbanismo, essas novas tecnologias como design paramétrico e novos meios de manufatura robotizados são vastamente aplicadas para se construir cada vez mais e mais, porém essa lógica capitalista já se provou ineficiente para resolver o problema das grandes cidades. E se a robótica e inteligência artificial fossem usadas para criar espaços adaptativos, questionando assim a necessidade de se construir mais? E quais seriam as experiências que esses espaços nos proporcionariam?
A cidade de São Paulo, a mais populosa do Brasil, por exemplo, tem mais imóveis ociosos que pessoas em condições de rua, embasando minha teoria de que quase não se é mais necessário construir, mas fazer com que os espaços sejam mais democráticos, levando assim, as tecnologias a serem aplicadas de outras formas, para a agilidade no uso desses espaços. Essa mutabilidade pode ser alcançada por meios tecnológicos e políticos, e por isso esse ensaio que intersecciona investigações tecnológicas e críticas por meio das artes.
A palavra OCA significa tanto o feminino de vazio, como a forma de habitação vernacular feita de feixes, típica dos povos indígenas. Da mesma forma, a instalação vive a constante metáfora de ser entre um objeto no espaço, como um imponente chandelier ou uma hipnotizante fogueira central às caiçaras; outrora se expande e toma forma análoga a paredes de feixes. paliçadas, que constituem as ocas, se tornando um lugar, um volume que nos envolve, causando proteção e acolhimento.
OCA propõe uma investigação de espaços auto configuráveis através da instalação uma série de barras de luz pendentes verticais se movendo, capazes de insinuar um volume que pode nos trazer uma rara oportunidade de brincarmos e interagirmos com a espacialidade, alterando suas características, normalmente estáticas, tais como: forma, tamanho e altura, para então sentirmos em tempo real como se dá essa experiência estética.
“A Arquitetura domestica o espaço ilimitado e nos permite habitá-lo, mas também deveria domesticar o tempo infinito e nos permitir habitar o continuum do tempo.”
― Juhani Pallasmaa
PRÓLOGO
Natural de Brasília, atualmente morando em São Paulo, sou Bacharel em Arquitetura e Urbanismo e Mestre em Mídias Interativas pela IaaC - Instituto de Arquitetura Avançada da Catalunha, instituto vinculado ao Fab Lab Barcelona, Espanha.
Sempre carreguei comigo uma curiosidade inesgotável e uma paixão pela tecnologia, e apesar de um curso incrível, as práticas de arquitetura de Brasília, ainda hoje tão cartesianas, nunca me atenderam por completo. Foi em 2008, logo antes de me formar, que andando por Madri, no Museu Reina Sofia, esbarrei com uma das gigantescas criaturas de plástico do artista Theo Jansen e dentro do museu eu me deparei com a célebre frase dele “As barreiras entre Arte e Engenharia só existem em nossas mentes” e nesse instante eu entendi que havia um lugar onde eu poderia conciliar minhas paixões.
Desde então eu busquei uma série de workshops e comecei a investigar as áreas de design paramétrico, robótica e programação. Comecei a trabalhar nesses workshops ajudando em processos de fabricação digital, como impressão 3D, CNC e corte a laser. Posteriormente fui estudar esses temas na IaaC, o que me levou a estudar Interatividade e as relações tangíveis da tecnologia com os usuários.
Essa busca pela perspectiva da experiência, por sua vez, me levou a voltar para o Brasil para trabalhar com cenografia, um braço mais sensível da arquitetura. Em 2013 comecei a trabalhar no Atelier Marko Brajovic, na época, o mais renomado estúdio de cenografia do Brasil, que projetou exposições como do David Bowie e Stanley Kubrick para o MIS - Museu da Imagem e do Som.
Em 2016 eu trabalhei como tutor em um workshop da UFRJ chamado Abrigos Sensíveis, onde ajudei grupos de estudantes de arquitetura e design a desenvolverem projetos de abrigos interativos, onde eu auxiliava no desenvolvimento conceitual e tecnológico, com questões mecânica, de eletrônica e de programação.
Nessa ocasião eu finalmente consegui concatenar as minhas áreas de interesse, a intersecção entre a tecnologia e a cenografia, em forma de esculturas cinéticas e instalações tangíveis que possibilitavam surpreender as pessoas, me desafiar e ao mesmo tempo, criticar a modelo como vivemos a tanto tempo.
Decidi por fazer da OCA minha primeira instalação autoral de grande porte, devido às questões conceituais envolvendo capitalismo, construção, especulação imobiliária e ocupação do espaço, e um equilíbrio entre um projeto desafiador, que me permite continuar estudando, ao mesmo tempo que exequível.
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